A preocupação com a saúde mental da população intensifica-se durante graves crises sociais. De facto, a pandemia da COVID-19 pode ser descrita como uma dessas crises, caracterizando-se como um dos maiores problemas de saúde pública internacional das últimas décadas. Um evento com esta magnitude pode condicionar o aparecimento ou agravamento de perturbações psiquiátricas.
O confinamento e o distanciamento físico obrigaram o ser humano a adaptar-se à nova realidade. Numa fase de alarme inicial, caracterizada por elevada preocupação e expectativa algo ingénua de que a pandemia duraria poucas semanas, as pessoas mantiveram-se ativas na tentativa de se adaptar a novas rotinas. Na fase seguinte, o esforço inicial esgotou-se e começaram a surgir sintomas como sensação de cansaço, tristeza, apatia, labilidade emocional e alterações do sono.
Neste sentido, a prevenção deve ser considerada uma aposta segura e fundamental. A promoção de saúde mental na população é um dever, não apenas dos técnicos de saúde mental, mas também de todo e qualquer cidadão.
De seguida enumeram-se algumas recomendações de comportamentos a adotar:
Estar atento às emoções:
- As emoções não são boas nem más e cada uma tem o seu significado;
- É importante normalizar as emoções, isto é, perceber que são normais, tendo em conta o contexto, e que traduzem uma reação à mudança e à sobrecarga emocional.
Manter rotinas:
- Criar novas rotinas, novos horários, incluindo tempo para atividades de lazer, conversar, partilhar experiências e emoções, ler, estudar, descansar, praticar exercício físico;
- Manter os horários de sono e das refeições é muito importante.
Aprender a lidar com a incerteza:
- É necessário manter-se informado e não “sobreinformado” ou “desinformado”. Quando obtemos demasiada informação sobre o coronavírus, gera-se ansiedade desnecessariamente;
- Definir períodos durante o dia para pensar e ler sobre este assunto. O restante tempo deve ser aproveitado para investir noutras temáticas.
Cuidar do corpo para cuidar da mente:
- Praticar exercício físico com regularidade, sendo que qualquer tipo de exercício físico é benéfico;
- O exercício físico diário realizado nas deslocações para o trabalho/escola/universidade deve ser substituído pelas chamadas “caminhadas higiénicas” e por exercícios realizados em casa, utilizando por exemplo suporte electrónico de tutoriais que são encontrados na internet, em particular nas redes sociais.
Manter o foco:
- Concentrar-se nos seus objetivos de vida e em soluções para eventuais problemas colocados pela pandemia;
- Focar-se nas necessidades atuais;
- Reorganizar-se e procurar alternativas, caso se justifique.
Falar e ouvir calmamente:
- Não é necessário estar sempre hiperalerta;
- As circunstâncias atuais obrigam a uma maior convivência com os familiares mais próximos. É necessário ouvir e comunicar mais e evitar discussões.
Praticar a gratidão:
- Focalizar em aspetos positivos da vida;
- Valorizar e agradecer o que temos (família, saúde, emprego, etc.) e não lamentar o que não temos.
Mais importante ainda, deve manter-se sempre esperança pois, e citando Nelson Mandela, “a esperança é uma arma poderosa e nenhum poder no mundo pode privá-lo dela”.
Fonte: Dra. Rosário Curral – Psiquiatra – Equipa COGE