A prevalência da obesidade apresenta valores crescentes na população em geral, sendo já a patologia mais frequente nas mulheres em idade reprodutiva. A sua incidência no mundo ocidental está a aumentar de forma muito importante. Neste momento, a obesidade é a doença crónica mais frequente nas mulheres grávidas.

A obesidade é uma condição médica e deve ser abordada como tal.

As grávidas com obesidade apresentam risco aumentado de complicações maternas e fetais, sendo que o risco é proporcional à obesidade apresentada e ao aumento ponderal na gravidez.  

Como se pode saber se existe excesso de peso ou obesidade?

A forma mais utilizada para determinar se uma pessoa tem um peso saudável ou se tem peso em excesso é o cálculo do índice de massa corporal, que se obtém, dividindo o peso (em kilos) pela altura (em metros) ao quadrado: = ( ) / 2 ( ). O cálculo do IMC classifica uma pessoa como tendo baixo peso, peso saudável, excesso de peso, ou obesidade – sendo que ainda divide a obesidade em 3 classes. Se a mulher já estiver grávida, calculamos o IMC com base no peso pré-concecional.

Quais os riscos que uma mulher grávida com excesso de peso ou obesidade pode correr?

As grávidas com obesidade podem, com maior probabilidade, ter doenças pré-existentes que podem complicar a gravidez, como diabetes e hipertensão arterial, mas também podem desenvolver, durante a gravidez e no parto, algumas complicações com maior frequência do que as grávidas com peso normal, como abortamento e parto prematuro.

No momento do parto, é maior a probabilidade de precisar de indução (de provocar o parto), de a anestesia ser mais difícil, de o parto ser mais demorado, de ser necessário parto instrumentado (com ventosa ou forcéps) ou cesariana.

Após o parto, está aumentado o risco de tromboembolismo, hemorragia, infeções e complicações com a cicatrização.

O bebé de uma mãe com obesidade pode nascer prematuro e ficar com sequelas dessa prematuridade, não ter diagnóstico de algumas alterações, porque a ecografia e os métodos de rastreio de doenças de cromossomas são mais limitados nas grávidas com obesidade, ser demasiado grande e sofrer traumatismo durante o parto, ser mais difícil a monitorização do bem-estar fetal durante o parto.

Por outro lado, os filhos de mães com obesidade têm um risco aumentado de virem a ser, eles próprios, obesos. Com a obesidade, vem um risco aumentado das doenças a ela associadas: diabetes, hipertensão, doenças cardíacas, osteomusculares, etc. De facto, se um progenitor tem obesidade, o risco de um filho também vir a ter aumenta duas a três vezes; se ambos os progenitores têm, o risco aumenta 15 vezes. Este risco deve-se a uma herança genética, mas também a comportamentos alimentares e de estilo de vida que se aprendem no seio da família.

Qual o acompanhamento da grávida com obesidade?

Qualquer mulher com excesso de peso ou obesidade será aconselhada a perder peso antes de engravidar. Até pequenas perdas de peso se associam a uma maior facilidade em engravidar e a menor probabilidade de desenvolver complicações na gravidez. Se tiver obesidade acima de IMC 40 – ou obesidade mórbida, até poderá, se desejar, ser candidata a cirurgia bariátrica.

Há muito que se pode fazer para que a gravidez corra da melhor maneira possível.

É oferecido acompanhamento por nutricionista. Manter uma alimentação saudável, variada e equilibrada – com especial atenção à dimensão das doses – é muito importante. Comer corretamente não é comer por dois!

O ganho de peso na gravidez é fisiológico e desejável, contudo, quanto maior o excesso de peso de uma grávida, menor é o aumento de peso recomendado.

O médico Obstetra poderá prescrever medicação, segura na gravidez, com o objetivo de diminuir o risco de algumas complicações, como pré-eclampsia e ocorrência de tromboses, e tratar outras, como a diabetes gestacional.

A avaliação do peso é efetuada em todas as consultas, para verificar se o aumento de peso está no intervalo recomendado para o IMC. A avaliação das tensões arteriais também é realizada em todas as consultas; por um lado, muitas grávidas com obesidade podem ser hipertensas sem o saberem, por outro, é necessário excluir valores tensionais elevados de novo, que se podem relacionar com complicações da gravidez como pré-eclampsia.

A prática de exercício físico é ótima para a saúde em geral e para a gravidez também: basta uma caminhada diária de 30 minutos!

E depois do parto?

A amamentação, muito recomendável para todas as mães, é ainda mais vantajosa nas mulheres com obesidade, pois associa-se a um gasto energético que ajuda na perda de peso; contudo, pode ser mais difícil nesta população. Existem, atualmente, na maioria das maternidades e Centros de Saúde, médicos e enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Infantil disponíveis para ajudar neste período tão difícil.

O período pós-parto é ideal para motivar estas mulheres a fazerem alterações no seu estilo de vida que podem trazer benefícios a toda a família!

Fonte: Dra. Joana Raquel Silva – Ginecologista/Obstetra – Equipa COGE