No dia Mundial da Voz, recordamos a importância que a nossa voz tem na nossa comunicação e relembramos os cuidados necessários para manter a sua qualidade.

Por que é que a nossa voz é tão importante?

A nossa voz é como a nossa impressão digital: tem caraterísticas específicas que fazem com que cada um de nós possua uma identidade vocal única, que resulta da interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais, os quais variam de pessoa para pessoa.

A voz constitui a forma mais eficaz e imediata de comunicar, permitindo-nos participar socialmente para transmitirmos diversas informações ao nosso interlocutor. Além disso, ela confere emoção, entoação e expressividade às nossas palavras, as quais serão interpretadas pelo nosso ouvinte com base na sua própria sensibilidade e experiência.

De acordo com o contexto e as nossas emoções, alteramos constantemente a nossa voz.

Por exemplo:

  • Se estamos felizes, aumentamos a nossa intensidade vocal e tendemos a usar mais os agudos.
  • Se nos encontramos mais deprimidos, reduzimos a intensidade vocal e usamos um tom mais grave.
  • Quando demonstramos afeto, recorremos à nasalidade e, quando estamos irritados, elevamos a intensidade da voz.

Por vezes, o nosso tipo de voz é associado a algumas caraterísticas do nosso estilo de comunicação.

Por exemplo:

  • Uma voz firme, mas não agressiva, com intensidade e frequência adequadas, pode ser relacionada com um estilo de comunicação mais assertivo.
  • A voz aguda, com uso de intensidade mais reduzida, trémula, revelando alguma timidez, encontra-se associada a um estilo mais passivo.
  • No estilo agressivo, é frequente a utilização de uma voz mais grave e com uma intensidade elevada, causando, por vezes, alguma intimidação.

Como se forma a nossa voz?

O conhecimento acerca da produção da nossa voz permite-nos compreender melhor toda a sua complexidade e preservar a sua qualidade.

Durante a inspiração, o ar proveniente dos pulmões passa pela laringe, onde se estende um tecido muscular com duas pregas elásticas, designadas por pregas vocais, que se contraem e relaxam pela ação dos músculos laríngeos. Estas pregas possuem dois tipos de movimento: a abdução e a adução. Na abdução, encontram-se abertas, permitindo a respiração. Quando se encontram em adução, fecham e, assim, possibilitam a fonação. Por ação da pressão subglótica, as pregas vocais vibram, originando um som. Posteriormente, o ar segue para as cavidades de ressonância faríngea, nasal e/ou oral, que amplificam esse som, formando-se a nossa voz. Somente um trabalho harmonioso destas cavidades contribuirá para uma projeção da voz de forma perfeitamente audível e sem qualquer esforço.

O que nos pode fazer suspeitar de que temos um problema vocal?

Qualquer alteração que sintamos na produção da nossa voz de forma persistente é motivo para ficarmos preocupados. O conhecimento acerca dos sintomas e sinais de alerta é fundamental para cuidarmos da nossa voz e procurarmos atempadamente uma avaliação.

Sintomas e sinais gerais de alerta:

  • Rouquidão;
  • Sensação de cansaço vocal;
  • Perda de voz ou dificuldade em produzir a voz, após um uso prolongado da mesma;
  • Pigarro frequente;
  • Sensação de corpo estranho na garganta;
  • Sensação de secura ao falar;
  • Dor ou sensação de picadas ao falar (odinofonia);
  • Tosse frequente;
  • Redução da extensão vocal;
  • Sensação de esforço para falar;
  • Quebras na voz (desvozeamentos);
  • Sensação de garganta irritada/ardor;
  • Dificuldade em projetar a voz;
  • Existência de secreções.

Quais são as patologias vocais mais comuns?

A presença de nódulos é uma situação frequente, que pode ser reversível através da intervenção terapêutica. Geralmente, resulta de maus usos/abusos vocais, mas também pode surgir devido a stresse emocional que causa tensão laríngea, agentes poluentes (exs.: poeiras, tabaco, ambientes ruidosos), infeções do foro respiratório, entre outros.

Existem outras patologias também identificadas por Otorrinolaringologia, tais como os pólipos, os quistos, os papilomas, os granulomas, os edemas de Reinke, a paralisia vocal, entre outras, que comprometem significativamente a qualidade vocal, sendo fundamental a colaboração entre todos os profissionais que acompanham a pessoa com Disfonia.

Como podemos prevenir as alterações vocais?

A prevenção desempenha um papel fundamental para evitar alterações anatómicas ou fisiológicas que comprometam o mecanismo de produção da voz, permitindo, assim, preservar a qualidade vocal. Deste modo, é muito importante seguir um plano de higiene e saúde vocais, saber identificar os sinais e sintomas gerais de alerta anteriormente referidos e reconhecer os comportamentos prejudiciais à voz, bem como os comportamentos que beneficiam a nossa qualidade vocal.

Comportamentos que podem estar a prejudicar a nossa voz:

  • Gritar ou falar muito alto, sem suporte respiratório adequado;
  • Falar em sussurro/cochicho de forma frequente, o que provoca grande esforço;
  • Cantar num tom fora do registo vocal (mais agudo ou mais grave);
  • Usar a voz de forma contínua durante estados gripais ou crises alérgicas;
  • Realizar ataques vocais bruscos;
  • Pigarrear ou tossir com frequência;
  • Falar ao mesmo tempo que se pratica exercício físico;
  • Imitar vozes ou ruídos;
  • Fumar (provoca tosse, pigarro, redução da intensidade da voz, tendo um efeito nocivo na mucosa laríngea, podendo causar edema e inflamação);
  • Falar muito em locais poluídos e ruidosos;
  • Ingerir cafeína em excesso (provoca desidratação a nível das pregas vocais);
  • Falar muito rápido;
  • Tomar medicamentos sem indicação médica (exs.: descongestionantes nasais anti-histamínicos, diuréticos e antidepressivos);
  • Consumir alimentos como o chocolate, os citrinos, o leite e derivados, o tomate, os alimentos gordurosos ou muito condimentados e bebidas com gás, pois aumentam o refluxo gastroesofágico que afeta as pregas vocais;
  • Exposição a produtos tóxicos ou fumos;
  • Consumir bebidas muito quentes ou muito frias;
  • Exposição a mudanças bruscas de temperatura e usar a voz prolongadamente em ambientes com ar condicionado (causa secura laríngea, rigidez e inflamação da mucosa);
  • Uso de roupas apertadas na zona do pescoço e da cintura, dado que limitam os movimentos para a fonação e respiração;
Mas também há comportamentos que só trazem benefícios!
  • Hidratar! Beber água frequentemente ao longo do dia (a água deve estar à temperatura ambiente);
  • Repousar a voz, sempre que possível;
  • Praticar exercício físico;
  • Dormir o número de horas necessário;
  • Falar de forma pausada, a fim de se ter tempo para respirar antes de se voltar a falar e evitar o uso de ar já residual no final das frases;
  • Usar um padrão respiratório adequado;
  • Realizar exercícios de aquecimento vocal e de relaxamento antes e depois do seu uso mais intenso;
  • Manter uma alimentação saudável (consumir mais legumes, alimentos cozidos/grelhados; o consumo de fruta, como a maçã, favorece uma maior hidratação; evitar o doces, os fritos e os refrigerantes);
  • Manter uma postura corporal correta;
  • Usar sistemas de amplificação durante apresentações/palestras.

Fonte: Dra. Márcia Pereira – Terapeuta da Fala – Equipa COGE