– Como correu o teu dia hoje?
– Não sei.
Quando pergunta ao seu filho como correu o dia de escola, ele responde
constantemente com as expressões «Correu bem.», «Não sei.» ou «Não me lembro.»?
Todos os pais gostam de saber como foi o dia dos seus filhos na escola, no
entanto, muitas crianças procuram mudar de assunto ou respondem quase de forma
automática. Por esse motivo, alguns pais partilham, em consulta, o seu sentimento de
frustração durante o estabelecimento deste diálogo, solicitando algumas estratégias de
comunicação para conseguirem obter mais informações acerca do dia dos seus filhos.
Quem disse que conversar é fácil?
Conversar é uma atividade complexa que implica um conjunto de competências
comunicativas e linguísticas muito importantes, tais como:
- ter intencionalidade comunicativa;
- tomar e respeitar os turnos de comunicação;
- estabelecer e manter a atenção conjunta;
- usar várias funções comunicativas, como, por exemplo, responder, perguntar e informar;
- compreender as mensagens transmitidas pelo interlocutor;
- introduzir e manter tópicos de conversação;
- iniciar, manter e finalizar uma conversa;
- evocar acontecimentos, pessoas e nomes de objetos;
- construir enunciados ou frases.
Algumas crianças apresentam dificuldades de comunicação e de linguagem que
dificultam o estabelecimento e a manutenção de uma conversa. Porém, quer para estas
crianças, quer para as que não relatam o seu quotidiano por se sentirem alvo de um
interrogatório, sugere-se que a mãe, o pai ou outros cuidadores também partilhem alguns
acontecimentos do seu próprio dia, servindo, assim, de modelo e incentivando este tipo
de diálogo.
Como obter mais informações sobre o dia do meu filho?
Existem outras perguntas, em substituição de “Como correu o teu dia?”, que
permitem criar um espaço de partilha entre pais e filhos e evitar um sentimento de
obrigação para descreverem o seu dia. No entanto, tenha em consideração o momento em que coloca as seguintes perguntas, visto que o seu filho poderá estar mais cansado
quando sai da escola, beneficiando de que as faça noutro momento, em família:
- Qual foi a atividade mais divertida que fizeste?
- O que é que gostaste menos de fazer?
- Com quem gostaste mais de brincar?
- Gostavas de ter ajuda em alguma atividade?
- O que é que te fez rir? / Alguém fez algo engraçado?
- Alguma coisa te fez sentir triste?
- De que gostaste mais de comer no almoço?
- Ajudaste algum amigo hoje?
- Gostavas de ter feito alguma coisa diferente?
- Estiveste sentado junto de quem?
- Quem foi o chefe/responsável da sala?
Poderá ter de adaptar estas sugestões à idade e às competências comunicativas e
linguísticas do seu filho, indicando-lhe duas opções como, por exemplo, “Gostaste mais
de ouvir a história ou de pintar?”. A colaboração entre pais e professores é muito
importante e, por isso, se conseguir obter previamente informações sobre algumas das
atividades realizadas na escola, poderá fazer perguntas mais adequadas ao seu filho. No
caso de se verificarem dificuldades em evocar acontecimentos e pessoas do seu dia a
dia, compreender as perguntas, organizar as suas ideias ou manter o tópico de
conversação, entre outras, poderá ser necessário realizar as perguntas com apoios
visuais, como, por exemplo, cartões ou fotografias, ou até usar uma lista de atividades, na
qual o seu filho e o professor poderão assinalar as que foram realizadas no contexto
escolar.
O que devo ter em conta durante a conversa com o meu filho?
A conversa é uma ótima atividade para desenvolver a linguagem e é muito
importante que, durante a mesma, tenha em consideração os seguintes aspetos:
- Procure que o seu filho estabeleça o contacto ocular enquanto conversam, podendo baixar-se para se colocar à sua altura;
- Fale pausadamente e evite usar vocábulos infantilizados, tais como “chicha”, “popó” ou “au-au”;
- Espere pela resposta do seu filho, evitando apresentar várias perguntas seguidas;
- Poderá ser necessário usar frases simples e curtas, de acordo com a idade do seu filho;
- Aproveite para introduzir palavras novas e explorar os seus significados;
- Se não perceber o que o seu filho lhe diz, seja sincero e explique-lhe que, nesse momento, não está a conseguir compreendê-lo, mas que o tentará ajudar;
- se o seu filho tomar a iniciativa de falar consigo, mantenha-se atento à sua mensagem valorize a sua iniciativa!
Se o seu filho nunca responde às perguntas ou apresenta, frequentemente,
dificuldades em compreender ou se expressar, considere importante uma avaliação
terapêutica.
Fonte: Dra. Márcia Pereira – terapeuta da Fala – Equipa COGE