O stress faz parte do dia a dia, e apesar de ser uma resposta comum a uma situação inesperada, que nos faz sentir ameaçados ou em desequilíbrio, quando é crónico e prolongado pode prejudicar gravemente a saúde, equilíbrio e bem estar das pessoas.

São múltiplas as situações e idades em que o stress se pode manifestar de forma negativa, comprometendo a capacidade das pessoas lidarem e gerirem o seu dia a dia e desencadeando por isso, uma situação de mal estar e desequilíbrio permanentes.

Síndrome de burnout

Um exemplo de perturbação psicológica causada por excesso de stress é o síndrome de burnout.

“Não aguento mais!”

O síndrome burnout é um estado de esgotamento físico, mental e emocional prolongado ou crónico, resultante de excesso de trabalho e que integra três elementos essenciais:

  • Exaustão – Sensação de excesso de tarefas, exaustão física, mental e emocional e falta de energia.
  • Desumanização – Redução de afetividade e capacidade empática, contactos mais impessoais e distantes, isolamento social e vontade de estar sozinho.
  • Baixa realização profissional – Desmotivação e perda de interesse face ao trabalho, perceção do trabalho como algo penoso e doloroso, redução de rendimento e realização pessoal.

Pessoas que apresentem um síndrome de burnout sentem que atingiram o seu limite e que não têm mais capacidade para continuar a lidar com a sua vida e dia-a-dia, sendo comum exteriorizarem essa saturação e exaustão com expressões como:

“Não aguento mais!” ou “Atingi o meu limite!”.

Vulgarmente associado a excesso de trabalho ou à exposição constante a stress laboral, o síndrome de burnout tem vindo a ser cada vez mais frequente na adolescência, em que cada vez mais jovens se sentem incapazes de lidar e superar as exigências do seu percurso escolar/formativo. Em termos gerais, tem-se vindo a verificar um aumento crescente deste síndrome na população global, situação que se agravou com o COVID-19 e todas as restrições a ele associadas.

São vários os sintomas físicos, emocionais e comportamentais associados a um síndrome de burnout, que não só variam de pessoa para pessoa, mas evoluem ao longo do tempo. Os mais comuns são:

  • Cansaço permanente e perturbação do sono.
  • Dores de cabeça e musculares persistentes.
  • Necessidade de isolamento social e dificuldade em interagir com os outros.
  • Sentimento de fracasso, impotência e desamparo.
  • Desmotivação, sentimento de solidão e negativismo.
  • Dificuldade de concentração, retenção de conhecimento e tomada de decisão.
  • Lentificação e dificuldade na execução de tarefas e responsabilidades.
  • Alterações de humor e maior irritabilidade.
  • Alterações de apetite e no consumo de álcool e drogas.

Sendo reconhecido pela Organização Mundial de Saúde como um síndrome crónico, o burnout pode ser prevenido e ultrapassado com o apoio profissional e abordagem multidisciplinar.

Dra. Andreia Monteiro – Psicóloga Clínica – Equipa COGE

Stress Parental

Recomendações e reflexões para adultos (e filhos)

A parentalidade pode ser sinónimo de propósito e bem-estar, contudo, também está associada a um conjunto de desafios e exigências. Embora seja expectável sentir stress, preocupação ou ansiedade face aos mesmos, o desgaste físico e psíquico pode ser frequente, duradouro e impactante, generalizar-se para outras áreas da vida da mãe / pai e levar a distorções cognitivas como a perceção de impotência, fracasso e falta de controlo.

Seguem-se algumas reflexões para considerar, de forma preventiva ou como ponto de partida para a procura de ajuda de um profissional:

Reforço e aceitação do seu papel materno ou paterno

  • Ajustar as práticas educativas à sua família, pois existem variadas orientações ou recomendações que nem sempre fazem sentido para todas as famílias e realidades.
  • Ajustar as expectativas de forma realista, errar e recomeçar são passos esperados neste caminho e a mudança é um processo com o seu próprio ritmo.
  • Aceitar os seus próprios limites, sabendo que está a tentar fazer o melhor que consegue e com as possibilidades e recursos disponíveis e que possíveis opiniões depreciativas de terceiros nunca irão refletir a realidade que você conhece.
  • Aprender a regular as suas próprias emoções, não as anulando, funcionando como um modelo para o filho que também está a aprender essa tarefa.

Reforço e aceitação do seu papel de mulher / homem

  • Dentro do possível para a sua rotina, procurar ter momentos individualizados de lazer ou de escape.
  • Não esquecer que cuidar de si próprio não implica o sacrifício de outros papéis, mas sim a tentativa de equilíbrio físico e emocional.

Vinculação segura maternofilial ou paternofilial

  • Fomentar interações positivas com o seu filho que promovam segurança, ao invés de ansiedade ou indiferença, pois este percecionará o adulto como uma base segura e isso será estimulante para a sua exploração do meio.
  • Providenciar momentos individualizados com o seu filho, privilegiando escolhas quer suas, quer do seu filho.
  • Não esquecer que quantidade nem sempre significa qualidade, por conseguinte, ajustar os momentos referidos à sua rotina.

Assertividade comunicacional

  • Lembrar que ser assertivo não é ser agressivo, preferir agir do que reagir ou acusar.
  • Utilizar uma linguagem clara e funcional, evitando mensagens contraditórias ou que possam induzir o outro em erro.
  • Não colocar o foco apenas no que considera negativo ou mal realizado, mas, igualmente, no que considera que pode ser uma alternativa ou uma solução, quer para si, quer para o outro.
  • Evitar “andar atrás do prejuízo”, tendo momentos em família frequentes ao longo do tempo para refletir sobre as regras estabelecidas e os problemas que têm existido na família, podendo prevenir eventuais novos desafios.

Separação parentalidade – conjugalidade

  • Compreender que os estilos parentais não têm de ser exatamente iguais, mas sim apontar para o mesmo objetivo e consistência.
  • Aceitar que há uma probabilidade de discordância quanto às regras e reforços comportamentais, mas que tal não reflete uma culpabilização. A crítica é ao comportamento manifestado, não à essência ou competência do cônjuge.
  • Não esquecer que antes de serem pais existia o casal e que nutrir essa relação contribui para o seu bem-estar, para além de que funciona como um modelo positivo para o seu filho.

Fortalecimento da rede de suporte

  • Contactar com pessoas que o possam escutar ativamente, sem realizar juízos de valor, ou então com quem espera contar com uma opinião sólida e empática.
  • Pedir ajuda é sinónimo de inteligência emocional e o trabalho em equipa, de facto, ajuda a distribuir pesos e responsabilidades.

Dra. Liliana Costa – Psicóloga Clínica e de Saúde e Psicoterapeuta Cognitivo-Comportamental na Infância e na Adolescência – Equipa COGE

Stress e Ansiedade na Primeira Infância

As crianças também podem sofrer de stress e ansiedade, podendo manifestar-se de forma diferente do adolescente e do adulto. Stress corresponde a uma reação perante uma situação extrema/estranha, eis algumas causas possíveis:

  • A mudança de rotinas e contexto.
  • A reorganização familiar.
  • A exposição a vídeos ou jogos.
  • Perdas ou afastamento de pessoas queridas.
  • Stress e doença parental.
  • Experiências traumáticas ou assustadoras

Ansiedade corresponde ao estado emocional no qual a criança tem medo ou preocupação excessiva relativamente a determinado assunto. É importante distinguir ansiedade e stress de medos caraterísticos do desenvolvimento normal, que aparecem como consequência de aquisição de novas competências, ajudando na readaptação. Medos normativos são limitados no tempo e não interferem com a socialização ou com o desenvolvimento da criança.

A forma como os cuidadores lidam com os medos e receios influencia a sua evolução e perpetuação. Pais disponíveis para ouvir as preocupações e medos, compreensivos e confortantes ajudam filhos a lidar com os medos. Demasiada atenção pode perpetuar comportamentos. É importante encontrar um equilíbrio, assegurando previsibilidade e segurança.

Identificar ansiedade pode ser difícil na primeira infância podendo manifestar-se de várias formas e de maneira atípica:

  • As crianças podem mostrar-se mais irritadas.
  • Fazem birras.
  • Ter um padrão de choro diferente.
  • Podem apresentar-se com comportamentos alterados, mais agressivas, mais isoladas ou com afastamento social.
  • Queixas físicas como dores de barriga .
  • Alterações no sono (pesadelos, insónia, sono não reparador) ou na alimentação.

Quando estes sinais de alarme são identificados e a criança está em sofrimento, causando impacto familiar,  é importante procurar ajuda especializada no sentido de tratar e desenvolver capacidades de resiliência e competências futuras.

Dra. Sofia Pires – Pedopsiquiatra – Equipa COGE