A agitação e ansiedade são manifestações muito comuns na pessoa com demência. Manifesta-se de várias formas, e o doente não consegue expressar o que está a sentir, nem o que lhe causa a angústia.
Como se pode expressar a agitação e o conflito na demência?
Pode expressar-se paradoxalmente por apatia, estando a pessoa sentada sem reagir a estímulos ou precisando de grande incentivo para realizar tarefas como vestir-se, ir para a mesa de refeições ou realizar a sua higiene. Mas frequentemente a pessoa com demência em estado de ansiedade fica inquieta e anda de um lado para o outro, procura uma segurança e conforto que não consegue explicar, segue o cuidador por toda a casa, desarruma gavetas e armários, veste-se e despe-se. Quando contrariada nestas suas acções pode mesmo manifestar alguma agressividade para com o cuidador.
Esta é uma situação que, nascendo da ansiedade, gera também uma enorme agitação no cuidador e muitas vezes é um ciclo vicioso que necessita de ser quebrado.
Qual a melhor abordagem que o cuidador deve ter em situações de conflito?
A abordagem é difícil, exige paciência e por vezes o cuidador tem mesmo que assumir um papel de quase “ator” ou “atriz”, em que se distancia emocionalmente das suas expectativas e procura ver o que é necessário fazer, controlando os seus impulsos. Manter um tom de voz sereno e sem variações bruscas, evitar gestos amplos e mais intempestivos e procurar manter uma expressão calma e tranquila são aspetos fundamentais, muito difíceis, mas recompensadores na relação com o doente.
Em que período do dia acontecem com maior frequência estes episódios?
Normalmente a agitação é mais frequente ao final do dia, e não é raro ser precipitada pela vontade de regressar à casa própria se nela não estiver a residir ou à dos pais. O doente muitas vezes assume que alguém, normalmente já falecido, está à sua espera e por isso está a faltar a um compromisso – isso é naturalmente motivo de enorme angústia. Também atos como tomar a medicação, tomar banho ou mudar de roupa podem precipitar mudanças de comportamento porque a pessoa sente-os como uma invasão da sua privacidade. Enquanto alguma da medicação, inclusive a usada em SOS, pode ser administrada de forma discreta, muitas vezes imperfectível para o doente (por exemplo, sob a forma de gotas), os outros atos exigem uma negociação calma e tranquila. Pode ser que o banho seja melhor tolerado noutra altura do dia, dado por outra pessoa que não tenha uma relação filial, ou então apenas supervisionado e deixando que o doente assuma os atos mais íntimos.
Não necessita de ser perfeito mas apenas suficiente, fazendo o que é possível da melhor forma: esta é a mensagem principal!
Redes de suporte de apoio ao cuidador
O cuidador, por tudo aquilo que foi dito, é alguém que está permanentemente exposto a um enorme desafio. Precisa de redes de suporte e de ajuda. Deve pedir apoio social, no seio da família ou da comunidade, sempre que não consiga cobrir todas as necessidades e se sentir exausto.
Deixamos aqui algumas sugestões práticas:
Alguns vídeos da Universidade da Califórnia disponíveis no seu canal de Youtube ilustram perfeitamente o que acontece nas casas das pessoas com demência e sublinham de forma muito clara o que deve e o que não deve ser feito.
Também a Associação Alzheimer Portugal tem um endereço electrónico onde é possível encontrar testemunhos de cuidadores, listas de apoios e pequenos artigos sobre como lidar com estas situações. É fundamental saber que não se está sozinho, e penso que é recompensador encontrar um saber de experiência feito.
Início – Associação Alzheimer Portugal
Como em tudo, Informação É Poder. Quanto melhor informado estiver, melhor poderá fazer face a uma situação exigente, com escolhas mais abrangentes e mais adequadas a cada caso.
Estamos disponíveis na COGE, com uma equipa multidisciplinar, para abordar estas dificuldades.
Com a colaboração das especialidades de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia podemos acompanhar o doente e cuidador, nas várias fases do percurso de ambos.
Fonte: Dra. Catarina Silva Santos – Neurologista – Equipa COGE