Nada mais do que uma reacção primitiva que os seres humanos mantêm enquanto animais. Os mecanismos do stress permitem-nos ter reacções de luta ou fuga perante situações que se nos vislumbram como de perigo para a nossa segurança. Tal como na savana uma gazela foge de um leão para evitar ser comida, também nós fugimos e escondemo-nos quando passamos por um bairro com elevada criminalidade para evitar sermos assaltados. Ainda na savana, tal como um leão e uma chita lutam pela sua presa, também nós lutamos para conseguir sobreviver no mundo do trabalho, com a elevada concorrência que temos para segurar os nossos postos de trabalho.
Mas qual o “motor” que põe a funcionar esta reacção? O nosso organismo, mais propriamente o nosso sistema nervoso, dispõe de um conjunto de neurónios chamado sistema nervoso simpático, que enerva todos os músculos do corpo, incluindo os músculos que revestem os nossos órgãos e mesmo glândulas, como as sudoríparas. Quem nunca sentiu o coração mais acelerado, dor de barriga, tremores e/ou formigueiros nos braços e nas pernas quando se sente mais stressado? Tudo o que sentimos é obra deste sistema que se torna simpático para nós, no sentido que nos ajuda a nos prepararmos para lidar com situações de perigo. O coração bate de forma mais acelerada para bombear sangue mais rapidamente para os músculos; a respiração torna-se mais rápida e funda para melhor oxigenarmos o sangue; os músculos tremem por se estarem a preparar para a acção e para reagir em segundos; como o sangue corre mais rápido, gera-se mais calor e, por isso, começamos a suar para dissipar esse calor; ficamos com o intestino mais preso porque o sangue foi desviado do sistema digestivo para os músculos; o cérebro começa a funcionar a “mil à hora” para nos preparar para tomar decisões em segundos.
Pelo que foi dito então parece que o stress é algo de bom para nós, certo? Nem sempre. Vamos pensar no nosso corpo como um quartel dos bombeiros. A sirene no quartel dispara quando há situações de perigo, como um incêndio, para alertar os bombeiros para entrar em acção. Agora imaginemos que a sirene do quartel está sempre a tocar a toda a hora ou em alturas em que não haja motivos para tal. Os bombeiros ficam confusos, desorganizados, não ficam preparados e não sabem quando devem intervir. O mesmo acontece quando o stress é constante e está presente a todas as horas do nosso dia. Sentimos sempre uma grande tensão muscular, a respiração está sempre alterada, parece que sentimos um aperto no coração, não conseguimos segurar numa chávena de café porque trememos, o cérebro fica confuso com tantos pensamentos, achamos que estamos mais esquecidos e até temos medo de estarmos a ficar como a nossa avó que tinha Alzheimer. E quando o perigo de facto aparece? Bloqueamos e não conseguimos reagir como seria suposto. Os sintomas aumentam de intensidade de tal forma que achamos que vamos morrer de ataque cardíaco naquele momento ou que vamos desmaiar. Chama-se a isto um ataque de pânico.
A todas estas alterações provocadas em nós pelo stress damos o nome de Perturbações de Ansiedade, que, por mais catastróficas que possam parecer, têm um tratamento muito simples à base de medicação e terapias psicológicas que fazem com que (voltando à analogia do quartel dos bombeiros) a sirene volte apenas a tocar quando haja realmente perigo.
Assim, o stress pode ser benéfico para nos ajudar a sermos pessoas mais organizadas e preparadas para os perigos do dia-a-dia. Contudo, em excesso altera a nossa estabilidade e o sofrimento que nos proporciona torna-nos mais frágeis, a ponto de diminuir a eficácia do nosso sistema imunitário e nos tornar mais vulneráveis à doença.
Em suma, sem stress ou com stress a mais somos seres mal preparados para enfrentar o mundo. Stress sim, mas apenas na conta certa.
Fonte: Dra. Rosário Curral – Psiquiatra – Equipa COGE