Distanciamento social e sentir-se sozinho/a!
“Sabes… acho que me tenho sentido sozinho/a!…”, custa ouvir esta frase, principalmente dos que nos são mais próximos e de sentir que tal solidão resulta, na verdade, de um ato de amor: ao nos distanciarmos “das nossas pessoas”, “do nosso mundo e vida” protegemo-nos mutuamente. Tem vindo a afetar, adultos, jovens e crianças que, vivendo sozinhos/as, em família ou comunidades sentem um vazio interior, uma ausência de afeto, uma tristeza que teima em persistir, uma saudade profunda e solidão. Por vezes estes sentimentos permanecem dentro de nós, manifestando-se através de um coração que dói, de um pensamento que nos deixa triste; outras vezes, dão um “ar da sua graça” e revelam-se nos nossos atos, comportamentos, humor ou mesmo silêncios. Neste texto, partilho algumas dicas que podem ser úteis para que cada um de nós seja capaz de gerir tudo o sentimos e vivemos dentro e fora de nós, de forma mais equilibrada e tranquila.
1. Assuma o que sente e seja generoso/a consigo. É importante saber que se sente sozinho/a e assumir esse sentimento para consigo. Este reconhecimento ajudá-lo/a-á a entender o que sente e a procurar estratégias para o gerir. Olhe para o “sentir-se sozinho/a” como uma parte de si, que sobressai mais nesta fase, mas que é gerivel e pode ser ultrapassado. Seja generoso/a consigo, não se culpe pelo que está a sentir, nem se veja como uma pessoa ingrata. O que sente é real e é uma forma de o seu organismo reagir a uma nova situação, pela qual não optou.
2. Mantenha o distanciamento social sem se isolar. Diminua, o mais possível a interação face a face com os outros que o rodeiam, sejam próximos ou não, contribuindo para a diminuição do risco de contágio e propagação do vírus. No entanto, evite isolar-se dos outros, mantendo contacto regular com aqueles que lhe são mais próximos/as através de telefonemas, reuniões online, e por que não escrevendo uma carta, um acenar à janela ou troca de presentes.
3. Mantenha ou crie hábitos. Os hábitos são essenciais para que possamos viver e sentir alguma “normalidade” num momento marcadamente estranho e diferente. Se por um lado, é possível manter ou reajustar hábitos que já tínhamos adquirido, por outro lado, é importante criar hábitos (que exige maior investimento), que nos permitam fazer atividades essenciais ao nosso equilíbrio global. Falo de hábitos pessoais (ler, prática de exercício físico, descanso), familiares (refeições em família, noite de jogos/filme, noite de deitar tarde), sociais (refeições com familiares e amigos mais distantes, festas à distância) e de trabalho (definir/manter horário de trabalho, identificar tarefas e prioridades, manter comunicação com colegas e superiores).
4. Defina e mantenha a rotina diária. A definição de horários (de descanso, refeições e atividades) é essencial e deve ser mantida, garantindo a diferenciação entre fim de semana e “dias úteis”. As rotinas e definição de horários aplicam-se a pessoas que estejam ou não em teletrabalho ou com aulas à distância, permitindo que permaneçam em atividade (física, mental e emocional) e que intercalem períodos de atividade com relaxamento e descanso.
5. Defina, na sua rotina, tempos de concentração, cooperação e relaxamento. Aplica-se também a pessoas que podem estar ou não em teletrabalho ou com aulas à distância e consiste, basicamente em definir atividades, tempos, limites e estratégias que permitam um equilíbrio entre tempos de concentração (para a execução de tarefas), de cooperação (de interação com outros) e relaxamento (para estar consigo próprio/a). É importante estar vigilante face a estes tempos e ser capaz de os ajustar ou adaptar à capacidade que tem no momento. Por exemplo, se sente que no tempo de concentração está com dificuldade em prosseguir ou finalizar a tarefa, dedique esse tempo para cooperação ou relaxamento, nem que seja por breves momentos, para que possa “restaurar” a sua concentração.
6. Dedique tempo e espaço para tratar de si. Soa a cliché, mas é uma das estratégias mais importantes para garantir um equilíbrio físico, emocional e mental em qualquer fase e contexto de vida. E o que significa “tratar de si”? Significa dedicar tempo a fazer algo que realmente goste e que tenha um impacto positivo no seu equilíbrio nos três níveis referidos. Ler, escrever, redecorar/organizar a casa, dançar, brincar, tratar de plantas, jogar ou mesmo não fazer nada, são alguns dos exemplos de atividades que o/a ajudam a cuidar de si.
7. Identifique estratégias para gerir emoções ou momentos mais negativos. Identifique formas e estratégias para lidar e ultrapassar os momentos em que se sente triste, com um humor diferente, sem energia ou desinteressado/a. As formas e estratégias variam de acordo com a personalidade e estado de espírito de cada um: podem ser estratégias mais individuais e introspetivas (como escrever, pensar, desenhar, observar) ou que envolvam terceiros (conversar, jogar, reunir). Por vezes, e para algumas pessoas, o exercício físico ou mesmo o descanso são bons aliados para superar estes momentos. Aprenda a escutar e sentir o seu corpo, a reconhecer os sinais relativos a estes momentos e a recorrer à estratégia mais adequada para os ultrapassar.
Desafiamos-vos a explorar a(s) dica(s) que melhor se adaptam à sua situação e personalidade e a partilhar connosco a vossa opinião sobre as mesmas!
Fonte: Dra. Andreia Monteiro – Psicóloga Clínica, Equipa COGE