A autoestima diz respeito à imagem/perceção de si próprio em termos do seu valor pessoal (a avaliação, positiva ou negativa, de si própria). A imagem/perceção, ou a forma como nos vemos a nós próprios, tem, por sua vez, uma influência preponderante na forma como percecionamos e nos relacionamos com os outros, motivo pelo qual é sempre importante abordar a autoestima e refletir sobre aquilo que pode contribuir para uma autoestima mais saudável. A autoestima global é diferente da autoestima em domínios específicos, como a competência em contexto escolar, social ou no desporto, ou a aparência física (Bos, Muris, Mulkens, & Schaalma, 2006).
Por seu turno, a trajetória desenvolvimental da autoestima pode ser variável, considerando diferentes faixas/períodos etários e, em particular, na infância, é importante enfatizar as mudanças significativas a nível físico, cognitivo, psicossocial e/ou emocional que ocorrem ao longo do desenvolvimento, influenciando as potenciais mudanças e o desenvolvimento da autoestima. Por sua vez, uma autoestima mais positiva relaciona-se com maiores níveis bem-estar individual, qualidade vida, adaptação psicossocial e académica/escolar, uma perceção de si realista e positiva e ainda com uma boa saúde emocional nas crianças. Por estes motivos, é fundamental apostar em estratégias, programas e/ou intervenções que promovam e/ou contribuam para o desenvolvimento de uma autoestima positiva em idades precoces.
Dificuldades resultantes de problemas de autoestima
As dificuldades resultantes de problemas de autoestima podem estar presentes em:
- Diferentes quadros clínicos como os problemas de comunicação e linguagem.
- Dificuldades emocionais, relacionadas com estados ansiosos ou depressivos.
- Perturbações do neurodesenvolvimento (ex. PHDA, dislexia);
- Em transições desenvolvimentais (ex. divórcio parental, etc.);
- Em doenças crónicas (ex. cancro pediátrico, etc.).
Sinais de alerta, sintomas ou indicadores patológicos de uma baixa autoestima
A intervenção na autoestima é um elemento-chave do tratamento realizado com diferentes crianças, com diferentes diagnósticos clínicos sendo, por isso, muito importante compreender e manter a atenção para eventuais sinais de alerta, sintomas ou indicadores patológicos de uma baixa autoestima. A este propósito, realça-se que os problemas de autoestima em crianças podem manifestar-se de diferentes formas, em diferentes crianças, evidenciando-se alguns dos sinais que podem ser mais relevantes tais como:
- Tendência para desvalorizarem as suas competências (ex. podem sentir-se inadequadas, incompetentes ou inferiores);
- Tendência para a experiência de sentimentos de tristeza, estados de raiva/irritabilidade e/ou ansiedade frequentes e intensos;
- seleção de comportamentos de segurança/proteção mais evidentes no evitamento do confronto com situações potencialmente ansiogénicas, complexas ou desafiantes (ex. negação, evitamento, etc.);
- Uma maior tendência para o isolamento social, que tem repercussões negativas no desenvolvimento de relacionamentos interpessoais com os pares (podem evitar o contacto com os outros e/ou manterem interações restritas com alguns colegas por terem medo de serem rejeitados.
- Em algumas situações, podem também ser rejeitados pelos pares/colegas ou serem vítimas de violência/bullying);
- O medo de correrem riscos e a presença de padrões irrealistas de perfeição (crenças cognitivas irrealistas) que prejudicam o seu envolvimento em atividades novas, bem como na exploração de interesses, limitando as possibilidades de experimentação, de promoção do seu potencial académico/escolar, social e criativo;
- a desvalorização dos sucessos obtidos e dificuldade em aceitar elogios; entre outros (Plummer, 2012).
Os pais, familiares e a escola podem potenciar o desenvolvimento de uma autoestima mais saudável
Na senda do que foi mencionado, e considerando a relevância da promoção da autoestima em crianças, destaca-se que os pais, familiares e a escola podem potenciar o desenvolvimento de uma autoestima mais saudável no dia-a-dia, de diferentes formas. Mais concretamente, os pais, educadores e professores constituem os primeiros modelos de aprendizagem das crianças e a qualidade das primeiras interações e relações precoces, em particular com os pais, tem uma relevância crucial para o desenvolvimento de uma imagem positiva de si. É também nos contextos familiares e escolares que se detetam, com mais frequência, potenciais indicadores de baixa autoestima, aspeto que é fundamental para um encaminhamento precoce para outros profissionais de saúde mental especializados que, conjuntamente com a criança, os pais e os professores, podem avaliar adequadamente os problemas exibidos e delinearem formas e/ou estratégias potenciadoras de maiores níveis de autoestima, bem-estar individual, resiliência emocional e adaptação psicossocial de crianças com dificuldades a nível da autoestima.
Referências bibliográficas
Bos, A. E. R., Muris, P., Mulkens, S., Schaalma, H. P. (2006). Changing self-esteem in children and adolescents: a roadmap for future interventions. Netherlands Journal of Psychology, 62:26-33. DOI:10.1007/BF03061048
Plummer, D. M. (2012). Como aumentar a autoestima das crianças. Guia prático para Educadores, Psicólogos e Pais. Porto: Porto Editora
Autora: Dra. Patrícia Dias – Psicóloga clínica e de saúde | Cédula Profissional N.º 19128 – Equipa COGE